segunda-feira, 25 de abril de 2016

Coisa de Guri vs Coisa de Guria


Episódio 1 (parte 1):
Fui na pracinha do condomínio com o meu filho e ele se encantou pelas panelinhas de uma criança que estava brincando lá. Pra alegria dele, a guriazinha estava interessada em outras brincadeiras, por isso não se importou de deixá-lo brincar com as panelinhas dela.
Uma outra guriazinha, acho que com uns 3 anos, se aproximou e começamos um diálogo:
- Não pode!
Eu achei que ela estava defendendo os brinquedos da amiguinha, então falei:
- Ah, tudo bem. Ela emprestou pra ele!
Mas ela insistiu, desta vez explicando o porquê:
- Não pode! É de menina!
E eu, já rindo por dentro com a oportunidade, disse:
- Pode sim, é de menina e de menino!
Ela insistiu mais uma vez, com o mesmo argumento, e eu fui na onda dela:
- Pode sim! É de menino também!
Ela me olhou, olhou meu filho enchendo e esvaziando uma panelinha cor de rosa, e cedeu:
- É, pode né?
- Pode. – eu concluí.
E ela saiu pra continuar sua brincadeira.

Episódio 1 (parte 2):
No outro dia do ocorrido na pracinha, conversando com uma amiga no whats app, falei que eu ia ter que comprar umas panelinhas para o meu filho, porque ele havia se encantado pelas panelinhas de uma guriazinha.
- Panelas? - perguntou ela.
- Sim, de brinquedo.
- Compra balde, tipo de praia.
- Por que não pode ser panela?
- Ah, sei lá, menina... kkk! Cada um, cada um...
- Sorry! Pra mim não existe brinquedo de menino e brinquedo de menina... exato, cada um, cada um...
Ela logo mudou de assunto, então acabei nem argumentando.
Uns dias depois veio a hashtag #meuamigosecreto e eu usei o exemplo dela para uma publicação no Facebook, sem citar seu nome, é claro.
Ela me chamou no whats app e conversamos um pouco sobre o assunto. Expus um pouco da minha opinião, ela expôs um pouco da dela, e ficamos por aí.

Episódio 2:
Fui buscar meu filho na casa da minha mãe e cheguei com um conjunto de vassoura, rodo e pá de brinquedo pra ele. Já fazia um tempo que ele não me deixava varrer a casa sem estar atrás de mim tentando puxar a vassoura.
Minha mãe:
- Ah, que legal! Não tinha outra cor, filha? – o conjunto é rosa com detalhes roxos.
- Por que mãe?
E ela já rindo:
- Ah, não sei... preconceito...
- Nada a ver essa coisa de cor mãe. E não, não tinha outra cor, e eu não ia deixar de comprar por causa disso.
Na verdade não sei se ela encarou só a cor como equivocada, o “legal” dela não me pareceu muito animado...

Notaram que as pessoas envolvidas nestas histórias tem idades completamente diferentes?
A guriazinha da pracinha, uns 3 anos, minha amiga, 32, e minha mãe, 61.
Quase 30 anos de diferença entre cada uma delas, e pensamentos muito parecidos.
Outro detalhe: todas mulheres! Mulheres gente!

Mulheres que, em função deste tipo de conceito, carregam os afazeres domésticos nas costas, enquanto o companheiro assiste futebol.
Mulheres que não descansam no final de semana e na segunda-feira voltam pro trabalho já exaustas, por não terem conseguido descansar em função da grande quantidade de lava-limpa-arruma do sábado e domingo.
Mulheres que pensaram/pensam milhares de vezes em desfazer seus relacionamentos porque seus companheiros simplesmente não colaboram.
Mulheres que, com o passar do tempo, tornam-se mais mães do que amantes de seus companheiros, porque eles insistem em continuar se comportando como adolescentes: meia debaixo da cama, prato no sofá, horas à fio jogando vídeo game enquanto a casa está do avesso...

Acho que eu não me encaixo muito neste tipo de mulher... Louça na pia não me impede de tirar uma sonequinha após o almoço, ou de simplesmente não fazer nada.
O que eu quero dizer é que, se a casa estiver arrumada, que o mérito seja dos dois, do casal. Mas se a casa estiver uma bagunça total, a responsabilidade, ou falta de, é dos dois também.
E não importa se pra ti limpeza e organização são prioridades, ou se são coisas secundárias, apenas seja coerente na educação dos teus filhos, tanto dos guris quanto das gurias.
Se pra ti é muito importante saber cozinhar, faxinar a casa uma vez por semana, e ter cada coisa em seu lugar, vá ensinando isso aos seus filhos, desde pequenos, sem obrigação nenhuma, na base da brincadeira mesmo.
Mas se pra ti,  o importante mesmo é aproveitar a vida vendo um filme, descansando, passeando, e na casa dá-se um jeito quando a vontade vier, permita que seus filhos desfrutem disso com contigo.

Dê pro teu filho exemplos das coisas que tu acredita!
Não adianta se queixar que faz tudo sozinha em casa e botar a guria pra lavar louça enquanto o guri navega na internet!
Não adianta se queixar que o companheiro não “ajuda” com as crianças e não deixar teu filho chegar perto de bonecas!
Não adianta se queixar por se sentir uma empregada  na tua própria casa e arrumar a cama, fazer o Nescau e a torrada do teu filho e entregar pra ele na frente do computador todo santo dia!

Tem um montão de coisas deste tipo enraizadas na nossa educação, na nossa cultura.
Vamos mudar isso? Veja nos teus filhos a oportunidade de fazer diferente!

Nenhum comentário:

Postar um comentário