domingo, 3 de abril de 2016

Cabelo ruim?!

Um acontecimento de umas semanas atrás me fez refletir no quanto nós, negros(as), reproduzimos as falas dos brancos.
Já pararam pra pensar?
Pra mim, o assunto em que isso mais se manifesta, é referente aos nossos cabelos.

Quantas vezes tu já chamou o cabelo de um semelhante de ruim, ou de duro?
Quantas vezes que tu já “classificou” uma pessoa como negra usando o cabelo ruim/duro como argumento?
Quantas vezes tu já pensou/disse que determinada pessoa negra não deveria/poderia usar o cabelo de determinada forma, ou de determinada cor, só pelo fato de ser negra?
Quantas vezes tu já penteou o cabelo de uma criança da tua família proferindo comentários do quanto o cabelo dela é difícil, embaraçado, e os mais variados adjetivos depreciativos?

Me envergonha muito, mas eu já fiz tudo isso incontáveis vezes!

A gente esquece o quanto isso nos magoou quando éramos crianças, e repetimos para nossos filhos(as), sobrinhos(as), primos(as)...
A gente esquece o quanto isso nos magoa ainda hoje, e repetimos para aquela amiga do cabelo tipo 4C (crespo que não forma cachos), mesmo que em tom de "brincadeira"...
E ainda falamos estas coisas convictas de que estamos ajudando o outro, afinal, "a criatura tem ter consciência de que o cabelo dela(e) não é bom!"

E não é desculpa, mas  eu realmente acho que fazemos este tipo de coisa no piloto automático, sem consciência alguma do que estamos falando. Porque enquanto vamos crescendo, tudo ao nosso redor conspira tão forte para nos fazer acreditar que nosso cabelo é ruim, que acabamos tomando isso como verdade.

Mas, depois de 30 anos, eu descobri que o meu cabelo não é ruim!
Melhor que isso, eu descobri que ninguém tem o cabelo ruim! Nem a(o) lisa(o), nem a(o) ondulada(o), nem a(o) cacheada(o), nem a(o) crespa(o), nem a(o) de cabelo black power, nem a(o) de tranças, nem a(o) de dreads, nem a(o) careca!
Ah, e como é libertador descobrir isso!
Como é maravilhoso andar pelas ruas, ver uma variedade infinita de cabelos, e achar todos lindos! Ou não, mas ainda assim, ter consciência de que os teus gostos são teus, e o outro não tem nada a ver com os teus gostos!

Abaixo, deixo um trecho de Milionário do Sonho, de Elisa Lucinda.
Muita verdade em poucas palavras:



"Tendo um cabelo tão bom, cheio de cacho em movimento, cheio de armação, emaranhado, crespura e bom comportamento, grito bem alto, sim! Qual foi o idiota que concluiu que meu cabelo é ruim? Qual foi o otário equivocado que decidiu estar errado o meu cabelo enrolado? Ruim pra quê? Ruim pra quem?

Infeliz do povo que não sabe de onde vem.

Pequeno é o povo que não se ama, o povo que tem na grandeza da mistura o preto, o índio, o branco, a farra das culturas.

Pobre do povo que, sem estrutura, acaba crendo na loucura de ter que ser outro para ser alguém."

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