quinta-feira, 8 de março de 2018

Feliz dia da mulher o c@#$&!

Deseja feliz dia da mulher, mas não exita em chamá-la de louca na primeira discussão;
Compra flores pra ela, mas faz de conta que a casa e suas roupas ficam limpas por um passe de mágica;
Lhe presenteia com chocolate, mas enche a boca pra dizer que não "pega" mulher gorda;
Afirma que toda mulher merece respeito, mas as classifica entre "é e não é pra casar";
Esbraveja que estupro é inaceitável, mas acha normal transar com a sua mulher mesmo quando ela não está muito a fim;
Elogia sua mãe chamando-a de "mulher guerreira", mas não se importa se pra isso ela está sacrificando sua saúde física e mental;
Diz que a mulher é a fonte da vida, mas prefere não contratar mulheres porque "a licença maternidade atrapalha o planejamento de qualquer empresa";
Envia e-mail de parabenização enaltecendo as mil qualidades da mulher, mas não leva em consideração estas mesmas qualidades ao selecionar colaboradores para cargos de liderança.

Feliz dia da mulher o c@#$&!

terça-feira, 4 de julho de 2017

A pior mãe do mundo


Quando vejo as pessoas justificando que não tem mais filhos em função dos custos que envolvem criar uma criança, penso no quanto isto é uma inverdade (na maioria dos casos).
Não, eu não tenho grana de sobra, e meu filho não tem tudo o que ele quer. Aliás, na maior parte do tempo, eu conto com o suporte dos meus pais e dos meus sogros para “criar financeiramente” meus filhos (principalmente com a vestimenta). Mas definitivamente, o que me impede de ter mais filhos não é o dinheiro, é EDUCAR mais filhos.
 
Não sei se as pessoas não falam sobre isso, ou se por não ter filhos a gente só não dá atenção, mas eu realmente não lembro de ver nenhuma mãe ao meu redor passando pelo sufoco que eu tenho passado. Eu estou nível do desespero! Meu filho bate, grita, briga e chora por tudo. E eu? Bom... eu estou fazendo tudo isso de volta: batendo, gritando, brigando, e depois me lavando em lágrimas de arrependimento. E por favor, não me interpretem mal, eu não estou fazendo este desabafo porque quero consolo, elogios, ou porque quero ouvir a clássica frase “tu está sendo a melhor mão que tu pode ser”. Não, eu não estou sendo a melhor mãe que eu posso ser. Eu sei que eu estou sendo a pior mãe do mundo, porque eu sei que eu posso ser muito melhor do que isso. Eu só não sei como. E este é o motivo deste post... Onde estão as mães que assim como eu estão perdidas? Onde estão estas mulheres que assim como eu leem páginas e mais páginas de textos e assistem horas e mais horas de vídeos sobre psicologia infantil, mas que na prática, estão num ciclo de desrespeito e agressão sem saber como sair?
 
Ninguém me falou que haveriam alguns dias (muitos dias, talvez dias demais) em que eu iria me sentir a derrota em pessoa.
Dias em que eu a questionar a minha decisão de ter filhos.
Dias em que eu só iria desejar sumir do mapa.
 
Na minha idealização, eu teria um filho que me respeitaria, mas sem ter medo de mim.
Ele teria momentos de birra, e eu não iria me importar com os olhares alheios.
Ele se descontrolaria às vezes, mas eu iria manter a calma, e ajuda-lo a se acalmar.
Nossos dias seriam divertidos, com muita brincadeira e muita risada, e não tensos, cheios de estresse e energia negativa.
 
Eu quero parar de culpar o meu filho pelos meu sonhos frustrados. Afinal de contas, EU sou a adulta da história, EU sou responsável pelo rumo que as nossas vidas estão tomando. Só que ele está gritando por socorro, e eu não estou conseguindo ajudar.

Como se faz? Como é que funciona isso de ser mãe?

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Sobre ser gorda e estar grávida...

Quando eu estava com umas 12 semanas de gestação, fiquei bem resfriada e com muita dor de cabeça. Achei que era sinusite e resolvi então ir em um pronto atendimento.
Ao entrar no consultório do médico, um jovem médico, por sinal, ele olha meu prontuário e começa a falar comigo:
- Tu tá grávida?
- Sim.
- Quanto tempo?
- 12 semanas.
- 12 semanas... mas essa barriga tá meio grande pra 12 semanas, né?
E eu, sem jeito e envergonhada respondi:
- Eu nunca fui magra... minha barriga já era grande antes de engravidar...

O atendimento seguiu como de costume: perguntas sem ao menos olhar nos meus olhos, mais perguntas antes mesmo de eu concluir uma resposta, um exame clínico e o dignóstico de placas na garganta (pois ele insistiu que eu deveria estar com dor, mesmo eu afirmando duas vezes que não sentia dor nenhuma) e a prescrição de 7 dias de antibiótico.
Saí de lá e só não joguei a receita no lixo por preguiça de procurar uma lixeira.

Mas não é sobre o mau atendimento que recebi que quero escrever neste post, e sim sobre o tamanho de barriga que as pessoas julgam normal durante a gravidez.

Logo que sái do consultório, fiquei com muita raiva de mim mesma por ter minguado diante da pergunta dele, quase que pedindo desculpas por não ter a barriga da Gisele Builtchen. Como eu queria ter "baixado" a maior das barraqueiras e ter dado uma resposta que deixasse ele contrangido pelo o que falou.
Sério que as pessoas não conseguem fazer a relação de que nem todas as mulheres tinham barriga tanquinho antes de engravidar?

Se tu é magra, provavelmente não vai entender o que vou escrever agora, mas, quando se é gorda, encolher a barriga, pra ela parecer ao menos um pouco menor do que realmente é, é um estado normal. Uma gorda nunca está com a barriga solta, relaxada. Pelo menos não se ela estiver na pesença de outras pessoas.
Pois bem, quando se engravida, é simplesmente impossível encolher a barriga! Tu pode até tentar, mas não vai conseguir. Ou pode até conseguir um pouco, mas provavelente vai se sentir desconfortável e ser obrigada a parar.
Então, por favor, entendam: quando uma gorda engravida, provavelmente a barriga dela vai parecer maior que a considerada "normal" para a idade gestacional.
No início da gestação, logo que se descobre, esta diferença é ainda mais evidente. Porque em um dia tu não sabe que está grávida e está tranquilamente encolhendo tua barriga, como de constume. E no outro, quando o teste dá positivo, tu barriga simplesmente salta pra frente, e tu não tem mais controle sobre ela! Isso pode parecer besteira, ou piada mas é mais ou menos assim que acontece...

Lembro que na minha primeira gestação demorei um pouco a curtir minha barriga, e sempre me sentia constrangida com o tamanho dela. Só quando ela tomou mais forma de "barriga de gestante de verdade" eu comecei a admirá-la.
Desta vez, demorei ainda mais pra chegar na fase da admiração, porque como meus músculos já então mais "elásticos" em função da primeira vez, minha barriga está ainda maior, e com mais aparência de barriga de gorda, ao invés de barriga de grávida.
Inclusive, quando as pessoas falam do tamanho da minha barriga, principalmente quando terminam com a velha frase "Mas então acho que são dois! Hahaha!", eu sempre acabo explicando que eu já era gorda e blá blá blá...
Essa repetição, dia após dia, é bem cansativa.

Sei que a forma como me sinto está diretamente relacionada com o meu complexo por ser gorda. Apesar de não fazer nada para emagrecer, eu sempre tive muita dificuldade em gostar do meu corpo.
Mas independente do meu complexo particular, eu pergunto: as mulheres são obrigadas, até mesmo durante a gestação, a seguirem um padrão de beleza?
Se já não bastassem todos os altos e baixos que rondam a mulher durante a gestação, ela ainda tem que carrregar este fardo? Ela ainda precisa se preocupar em satisfazer o que as pessoas esperam ver no corpo dela?

A palavra de ordem parmanece a mesma de sempre: EMPATIA!
E ao contrário do que muitas pessoas pensam, e do que eu mesma pensava, empatia não é menosprezar o sentimento do outro e incentivá-lo a esquecer, a dar a volta por cima. Empatia é reconhecer que tu não é o outro, que tu não viveu o que o outro viveu, e que por este motivo, pode até imaginar, mas não pode saber exatamente como ele se sente em determinada situação.
Nestas horas, o silêncio e o exercício de se colocar no lugar do outro valem mais que mil conselhos!


Obs.1: tenho certeza que eu já fiz algum comentário deste tipo às gestantes que cruzaram meu caminho... Me desculpem! Eu aprendi e não vou repetir!
Obs.2: não tenho propriedade para falar sobre as gestantes magras, mas imagino que também há as que sofrem com a "síndrome da barriga pequena demais"!
Obs.3: sobre as gordas encolherem a barriga, talvez as gordas que aceitam seus corpos como eles são não façam isto. Falo como gorda "não assumida", se é que isso é possível... :)

terça-feira, 28 de junho de 2016

O segundo filho!

Estou grávida!
De novo!


E agora?


E se eu não der conta?
E se eu enlouquecer?
Será que eu deveria ter esperado um pouco mais?
E se não for uma menina, como todos esperam que seja? Eles vão amá-lo? Eu vou amá-lo?
E se eu amar, mas não amar como eu amo o primeiro?
E se eu amar tanto o segundo a ponto de deixar de amar o primeiro?
E o meu casamento, vai resistir a um segundo filho?
E o parto? Ahhhh o parto... Será que desta vez eu consigo?


Estas são apenas algumas das muitas dúvidas que rondam a cabeça das mulheres durante a segunda gestação. Bom, ao menos a minha...
O problema é que, inevitavelmente, as respostas só virão depois do nascimento do bebê. Porque não importa o que a tua família e amigas dirão, aquele "será?" não vai embora antes disso.


Agora, mistura toda esta confusão a um turbilhão de hormônios à flor da pele. Resultado? Choro, choro e mais choro.
Há todo momento vem questionamentos e auto julgamentos difíceis de serem tratados com a razão. É incontrolável!


E se já não bastasse tudo o que a minha cabeça cria sozinha, ainda tenho que lidar com as pressões externas, que horas vem diretamente, com sentenças enfáticas do que e como tu deve fazer, e horas vem apenas com aquele olhar mudo, mas que tu sente que está carregado de "se fosse eu...".


Eu não saí contando a cada pessoa que cruza comigo que eu estou grávida, nem postei nada explícito no Facebook até agora.
Não engravidei por descuido, e este bebê não é indesejado, mas esta está sendo uma experiência completamente diferente do que foi minha primeira gravidez.


Espero nunca mais esquecer de como foram minhas duas experiências para poder ser mais empática com as gestantes que cruzarem meu caminho.
Não é simples, não é igual, e nem tem que ser.


Tudo o que eu preciso é de paz e tempo para me conectar a este novo serzinho que estou gerando...
É pedir demais?
Não, não é.
Eu mereço.
Toda gestante merece!


Obs.: fico cada vez mais pasma com a verdade da piadinha "Se não postou no Facebook, não aconteceu!" Cara, as pessoas realmente fazem esta relação! A primeira frase que escuto quando alguém fica sabendo que estou grávida é "Mas tu nem posto no Face!" Kkk!

sexta-feira, 10 de junho de 2016

“Tem é que matá esses vagabundo tudo!”


Ser assaltado é horrível!
A sensação de impotência que se instala na gente depois ter uma arma apontada pra sua cabeça é algo inexplicável. Nos deixa no chão. Nos sentimos lixo.
E quando um ato destes acaba em uma fatalidade, um ferimento grave, uma lesão irreversível, uma morte, bom, aí eu nem imagino o tamanho desta dor. Mas é certamente imensamente maior do apenas ser roubado.
Nestes dois casos, o ódio, a revolta, a sede por vingança, às vezes até mesmo na mesma moeda, podem vir muito facilmente.
 
Mas, todas as reflexões que eu tenho feito, todo o conteúdo que eu tenho consumido, e principalmente, o fato de eu ter me tornado mãe, me fazem a cada dia repensar essa nossa facilidade de decretar sentenças.
 
Não consigo mais ver uma reportagem em que homens foram mortos em uma perseguição pela polícia após uma tentativa de assalto, sem pensar no que pode ter acontecido na vida deles pra que chegassem até aquele momento.
Não consigo mais ouvir uma pessoa comentando que um conhecido teve seu celular roubado por um ”vagabundo”, sem pensar no quanto este “vagabundo” estava sendo consumido pelo desejo de mais uma dose de uma droga qualquer.
Não consigo mais ver adolescentes serem presos acusados por tráfico de drogas, sem pensar no desespero das mães daqueles guris, que ao receberem a notícia se condenaram tentando entender onde foi que elas erraram.
 
Essas reflexões se instalaram na minha cabeça a partir do momento que eu comecei a me dar conta de quem são estas pessoas. Quem são estes caras que ao invés de trabalharem honestamente querem ganhar a vida roubando o que é nosso? Quem são estes pivetes alocados nas esquinas vendendo drogas aos nossos jovens? Quem são estes “nóias” enfeiando nossas ruas?

Pois eu sei quem são: são meus irmãos, são meus sobrinhos, são meus primos, são meus afilhados; são meus filhos, são meus vizinhos.
É o povo preto e pobre que está marginalizado, é o povo preto e pobre que está sendo preso, e é o povo preto e pobre que está morrendo.
E isto não sou eu quem digo, são as estatísticas: em média, 66% dos jovens infratores vivem em famílias extremamente pobres, e 60% são negros.
 
No Brasil, desde a suposta libertação do povo preto, mais de 100 anos de abandono e descaso pela sociedade se passaram. Mas para muitos, pouco mudou, pois mesmo após gerações e gerações, permanecem às margens, sem conseguir quebrar o ciclo de pobreza e ignorância.
 
Eu sei que tem um montão de preto e pobre por aí trabalhando honestamente, estudando, se formando. Sim, e que bom, que ótimo! Mas não se engane, esta não é a regra. Não menspreze a força que é necessária para vencer centenas de anos de atraso em um país onde nada foi feito pensando no nosso povo. 

Por isso, e por diversos outros motivos, eu temo ser assaltada e ferida nas ruas, como qualquer outra mulher. Mas como mulher negra, eu tento sempre me lembrar que se algo acontecer, provavelmente será o meu irmão (homem preto), que estará diante de mim, e eu não posso/não quero vê-lo como um inimigo.
 

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Coisa de Guri vs Coisa de Guria


Episódio 1 (parte 1):
Fui na pracinha do condomínio com o meu filho e ele se encantou pelas panelinhas de uma criança que estava brincando lá. Pra alegria dele, a guriazinha estava interessada em outras brincadeiras, por isso não se importou de deixá-lo brincar com as panelinhas dela.
Uma outra guriazinha, acho que com uns 3 anos, se aproximou e começamos um diálogo:
- Não pode!
Eu achei que ela estava defendendo os brinquedos da amiguinha, então falei:
- Ah, tudo bem. Ela emprestou pra ele!
Mas ela insistiu, desta vez explicando o porquê:
- Não pode! É de menina!
E eu, já rindo por dentro com a oportunidade, disse:
- Pode sim, é de menina e de menino!
Ela insistiu mais uma vez, com o mesmo argumento, e eu fui na onda dela:
- Pode sim! É de menino também!
Ela me olhou, olhou meu filho enchendo e esvaziando uma panelinha cor de rosa, e cedeu:
- É, pode né?
- Pode. – eu concluí.
E ela saiu pra continuar sua brincadeira.

Episódio 1 (parte 2):
No outro dia do ocorrido na pracinha, conversando com uma amiga no whats app, falei que eu ia ter que comprar umas panelinhas para o meu filho, porque ele havia se encantado pelas panelinhas de uma guriazinha.
- Panelas? - perguntou ela.
- Sim, de brinquedo.
- Compra balde, tipo de praia.
- Por que não pode ser panela?
- Ah, sei lá, menina... kkk! Cada um, cada um...
- Sorry! Pra mim não existe brinquedo de menino e brinquedo de menina... exato, cada um, cada um...
Ela logo mudou de assunto, então acabei nem argumentando.
Uns dias depois veio a hashtag #meuamigosecreto e eu usei o exemplo dela para uma publicação no Facebook, sem citar seu nome, é claro.
Ela me chamou no whats app e conversamos um pouco sobre o assunto. Expus um pouco da minha opinião, ela expôs um pouco da dela, e ficamos por aí.

Episódio 2:
Fui buscar meu filho na casa da minha mãe e cheguei com um conjunto de vassoura, rodo e pá de brinquedo pra ele. Já fazia um tempo que ele não me deixava varrer a casa sem estar atrás de mim tentando puxar a vassoura.
Minha mãe:
- Ah, que legal! Não tinha outra cor, filha? – o conjunto é rosa com detalhes roxos.
- Por que mãe?
E ela já rindo:
- Ah, não sei... preconceito...
- Nada a ver essa coisa de cor mãe. E não, não tinha outra cor, e eu não ia deixar de comprar por causa disso.
Na verdade não sei se ela encarou só a cor como equivocada, o “legal” dela não me pareceu muito animado...

Notaram que as pessoas envolvidas nestas histórias tem idades completamente diferentes?
A guriazinha da pracinha, uns 3 anos, minha amiga, 32, e minha mãe, 61.
Quase 30 anos de diferença entre cada uma delas, e pensamentos muito parecidos.
Outro detalhe: todas mulheres! Mulheres gente!

Mulheres que, em função deste tipo de conceito, carregam os afazeres domésticos nas costas, enquanto o companheiro assiste futebol.
Mulheres que não descansam no final de semana e na segunda-feira voltam pro trabalho já exaustas, por não terem conseguido descansar em função da grande quantidade de lava-limpa-arruma do sábado e domingo.
Mulheres que pensaram/pensam milhares de vezes em desfazer seus relacionamentos porque seus companheiros simplesmente não colaboram.
Mulheres que, com o passar do tempo, tornam-se mais mães do que amantes de seus companheiros, porque eles insistem em continuar se comportando como adolescentes: meia debaixo da cama, prato no sofá, horas à fio jogando vídeo game enquanto a casa está do avesso...

Acho que eu não me encaixo muito neste tipo de mulher... Louça na pia não me impede de tirar uma sonequinha após o almoço, ou de simplesmente não fazer nada.
O que eu quero dizer é que, se a casa estiver arrumada, que o mérito seja dos dois, do casal. Mas se a casa estiver uma bagunça total, a responsabilidade, ou falta de, é dos dois também.
E não importa se pra ti limpeza e organização são prioridades, ou se são coisas secundárias, apenas seja coerente na educação dos teus filhos, tanto dos guris quanto das gurias.
Se pra ti é muito importante saber cozinhar, faxinar a casa uma vez por semana, e ter cada coisa em seu lugar, vá ensinando isso aos seus filhos, desde pequenos, sem obrigação nenhuma, na base da brincadeira mesmo.
Mas se pra ti,  o importante mesmo é aproveitar a vida vendo um filme, descansando, passeando, e na casa dá-se um jeito quando a vontade vier, permita que seus filhos desfrutem disso com contigo.

Dê pro teu filho exemplos das coisas que tu acredita!
Não adianta se queixar que faz tudo sozinha em casa e botar a guria pra lavar louça enquanto o guri navega na internet!
Não adianta se queixar que o companheiro não “ajuda” com as crianças e não deixar teu filho chegar perto de bonecas!
Não adianta se queixar por se sentir uma empregada  na tua própria casa e arrumar a cama, fazer o Nescau e a torrada do teu filho e entregar pra ele na frente do computador todo santo dia!

Tem um montão de coisas deste tipo enraizadas na nossa educação, na nossa cultura.
Vamos mudar isso? Veja nos teus filhos a oportunidade de fazer diferente!

domingo, 3 de abril de 2016

Cabelo ruim?!

Um acontecimento de umas semanas atrás me fez refletir no quanto nós, negros(as), reproduzimos as falas dos brancos.
Já pararam pra pensar?
Pra mim, o assunto em que isso mais se manifesta, é referente aos nossos cabelos.

Quantas vezes tu já chamou o cabelo de um semelhante de ruim, ou de duro?
Quantas vezes que tu já “classificou” uma pessoa como negra usando o cabelo ruim/duro como argumento?
Quantas vezes tu já pensou/disse que determinada pessoa negra não deveria/poderia usar o cabelo de determinada forma, ou de determinada cor, só pelo fato de ser negra?
Quantas vezes tu já penteou o cabelo de uma criança da tua família proferindo comentários do quanto o cabelo dela é difícil, embaraçado, e os mais variados adjetivos depreciativos?

Me envergonha muito, mas eu já fiz tudo isso incontáveis vezes!

A gente esquece o quanto isso nos magoou quando éramos crianças, e repetimos para nossos filhos(as), sobrinhos(as), primos(as)...
A gente esquece o quanto isso nos magoa ainda hoje, e repetimos para aquela amiga do cabelo tipo 4C (crespo que não forma cachos), mesmo que em tom de "brincadeira"...
E ainda falamos estas coisas convictas de que estamos ajudando o outro, afinal, "a criatura tem ter consciência de que o cabelo dela(e) não é bom!"

E não é desculpa, mas  eu realmente acho que fazemos este tipo de coisa no piloto automático, sem consciência alguma do que estamos falando. Porque enquanto vamos crescendo, tudo ao nosso redor conspira tão forte para nos fazer acreditar que nosso cabelo é ruim, que acabamos tomando isso como verdade.

Mas, depois de 30 anos, eu descobri que o meu cabelo não é ruim!
Melhor que isso, eu descobri que ninguém tem o cabelo ruim! Nem a(o) lisa(o), nem a(o) ondulada(o), nem a(o) cacheada(o), nem a(o) crespa(o), nem a(o) de cabelo black power, nem a(o) de tranças, nem a(o) de dreads, nem a(o) careca!
Ah, e como é libertador descobrir isso!
Como é maravilhoso andar pelas ruas, ver uma variedade infinita de cabelos, e achar todos lindos! Ou não, mas ainda assim, ter consciência de que os teus gostos são teus, e o outro não tem nada a ver com os teus gostos!

Abaixo, deixo um trecho de Milionário do Sonho, de Elisa Lucinda.
Muita verdade em poucas palavras:



"Tendo um cabelo tão bom, cheio de cacho em movimento, cheio de armação, emaranhado, crespura e bom comportamento, grito bem alto, sim! Qual foi o idiota que concluiu que meu cabelo é ruim? Qual foi o otário equivocado que decidiu estar errado o meu cabelo enrolado? Ruim pra quê? Ruim pra quem?

Infeliz do povo que não sabe de onde vem.

Pequeno é o povo que não se ama, o povo que tem na grandeza da mistura o preto, o índio, o branco, a farra das culturas.

Pobre do povo que, sem estrutura, acaba crendo na loucura de ter que ser outro para ser alguém."